quinta-feira, 16 de julho de 2009, 13:06 | Online
Especialista diz que imunização está próxima, mas questiona se doses serão suficientes.
BBC
Brasil em Londres - Uma especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS)
afirmou nesta quinta-feira que até o início de setembro devem estar
disponíveis as primeiras doses de uma vacina contra a gripe suína, a influenza
A H1N1.
A diretora da Iniciativa da OMS para a Pesquisa de Vacinas, Marie-Paule Kieny,
ressaltou, porém, que o tempo necessário para levar a imunização a todos os
países dependerá de licenciamento local e da eficiência de cada tratamento.
"Certamente haverá vacinas disponíveis em setembro. Então a questão não é se
haverá uma vacina para a gripe H1N1 - haverá. É questão é quantas doses
haverá", afirmou Kieny, em entrevista à BBC Brasil.
Segundo a OMS, existem no mundo em torno de 20 fabricantes autorizados a
produzir a vacina da gripe sazonal, que estariam um passo à frente na
fabricação de vacinas para a gripe suína.
Cerca de 70% da produção se concentra na América do Norte e Europa, mas também
há capacidade em países de outras regiões, como Austrália, China e Japão.
Kieny disse que testes clínicos começarão a ser realizados na Austrália já no
dia 22 de julho, com os primeiros resultados saindo pouco depois e o
licenciamento ocorrendo em setembro.
Na Europa o avanço na pesquisa se dá a passos semelhantes, assim como nos
Estados Unidos, onde vacinas contra a gripe sazonal não requerem testes
clínicos e as empresas são autorizadas a produzir o medicamento com base em
uma "mudança de variante" do vírus influenza, ela afirmou.
O Instituto Butantan, em São Paulo, é hoje o único local na América Latina
onde se fabrica a vacina da gripe sazonal. Com a inauguração, até novembro, de
uma nova fábrica com capacidade de produção de 1 milhão de doses, a
instituição poderia destinar parte de sua capacidade para atender à demanda
por imunização contra o vírus.
"O Brasil tem capacidade de produção no médio prazo, porque já tem instalações
de produção de vacinas contra gripe. Se decidirem que vão produzir vacina
contra o H1N1, podem fazê-lo dentro de algum tempo", disse Marie-Paule Kieny.
Avanço da doença
A discussão sobre o advento de uma vacina contra a gripe suína ocorre no
momento em que aumentam os casos de contágio pela doença.
Nesta quinta-feira, o governo australiano alertou que, sem vacina e no pior
cenário, a doença pode matar até 6 mil pessoas no país neste ano. O governo
planeja uma vacinação em massa em outubro.
Na Grã-Bretanha, onde se estima que a gripe suína venha a afetar 100 mil
pessoas por dia no auge do período de contaminação, o número de atendimentos
do serviço público relacionados à doença aumentou 50% só na última semana.
O país deve receber até o fim de dezembro 60 milhões de doses da vacina -
suficientes para cobrir metade da população.
Na reunião de autoridades de saúde sul-americanas, realizada em Buenos Aires
na quarta-feira, o ministro argentino da Saúde disse que o H1N1 já está por
trás de algo entre 85% e 90% dos casos de gripe no continente.
A provisão de vacinas foi um dos temas importantes do encontro, e os
representantes dos países concordaram que os chamados "grupos vulneráveis" -
pessoas com saúde mais frágil e com maior risco de morte - terão prioridade no
tratamento da doença.
Disponibilidade
Mas ainda há dúvidas sobre a capacidade de produção de vacinas uma vez que o
processo em grande escala se inicie, ressalvou Marie-Paule Kieny.
No melhor cenário, a indústria poderia fornecer 90 milhões de doses de vacinas
por semana, ou cerca de 4,9 bilhões ao ano, ela afirmou.
Mas isto somente se: 1) a capacidade global de produção estiver voltada para
este objetivo; 2) os laboratórios mantiverem para a gripe suína os mesmos
níveis de produção da gripe sazonal; 3) cada fabricante usar a fórmula mais
"econômica", ou seja, com menor uso de princípio ativo.
Se for necessário dobrar a dosagem da vacina ou o uso do princípio ativo, por
exemplo, a disponibilidade de medicamentos seria proporcionalmente reduzida,
ela apontou.
Cálculos mais conservadores estimam que a produção de vacinas seria de 1
bilhão a 2 bilhões de doses por ano. Será suficiente?
"Depende dos objetivos de governo de cada país", responde a especialista. "Se
você quiser proteger apenas sua infraestrutura, pode querer vacinar apenas os
seus funcionários dos setores de saúde, energia, segurança. Se quiser reduzir
a transmissão da doença, pode querer imunizar todas as suas crianças em idade
escolar. Para reduzir a mortalidade pode priorizar grupos mais vulneráveis a
doenças."
Diante da escassez inicial de vacinas, a OMS recomendou em uma circular
recente que os primeiros a receber a imunização sejam os profissionais de
saúde de cada país, e depois uma série de grupos mais ou menos vulneráveis à
gripe. No entanto, ressalta Kieny, essa definição "é uma questão de prioridade
nacional e tomada de decisões".
O desafio em relação à gripe suína é que, diferente da sazonal, esta tem feito
vítimas entre jovens adultos e crianças, muitos aparentemente saudáveis antes
da doença.
"É chocante ver que uma grande porcentagem de pessoas que morreram eram
jovens, adultos de meia idade, obviamente saudáveis", disse Kieny. "Há
indicativos de que muitas destas pessoas que morreram estariam saudáveis e
felizes em outra situação." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É
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