Um dos problemas criados pela hegemonia do Excel como ferramenta para elaboração de gráficos é a dificuldade de utilizar tipos que não estão definidos na sua biblioteca.
Ao longo dos anos, muitas pessoas tentaram desenvolver soluções dentro do Excel para responder às tais insuficiências. Essas soluções passam pelo uso de séries fictícias (invisíveis no resultado final), uso criativo de algumas opções (marcadores de margens de erro, por exemplo) ou pela programação.
Para o utilizador mediano da folha de cálculo, muitas das soluções são demasiado complexas para terem um retorno positivo face ao custo de execução. Há casos, no entanto, com uma efectiva mais-valia, e que merecem ser explorados.
No BizViz irei mostrando alguns casos que me parecem úteis para a análise de certos tipos de dados. O primeiro gráfico desta série é o chamado “gráfico ternário” (experimente googlar “ternary chart” ou “triangular diagrams“). Era um gráfico muito usado há alguns anos atrás para representar três variáveis que somassem 100%, como a estrutura etária da população (jovens+adultos+idosos) ou os sectores de actividade (primário+secundário+terciário).
É um gráfico interessante porque permite mapear até quatro variáveis com um único ponto (sendo a quarta eventualmente a dimensão da entidade), criando uma nuvem de pontos onde se detectam agrupamentos homogéneos.
No exemplo, bastante simples, é representada a distribuição da população por sectores de actividade a partir dos dados dos censos de 2001. Cada ponto representa uma região NUTE de nível III. Para ler o gráfico, trace uma linha vertical imaginária a partir do vértice superior (Primário). Quanto mais próximo desse vértice estiver um ponto maior o peso do sector primário. Os outros vértices lêem-se do mesmo modo.
Chamo a atenção para três grupos (A, B e C) como exemplo de interpretação. No grupo A, é fácil adivinhar que o ponto mais à direita é a Grande Lisboa, pelo peso do terciário, e a distância do primário (o segundo ponto é a Península de Setúbal). No grupo B, onde é maior o peso do sector primário, temos as regiões de Alto Trás-os-Montes e Douro. No grupo C, os pontos são, por ordem de proximidade ao vértice, Ave, Entre Douro e Vouga e Tâmega. Se tem presente a geografia de Portugal, observará que estes grupos são curiosamente muito homogéneos do ponto de vista geográfico (primeira lei da geografia: dois pontos são tanto mais similares quanto mais próximos estiverem).
Este gráfico tem um elevado nível de complexidade, porque, embora utilize como base um gráfico de dispersão, obriga a rodar os pontos originais para que possam ser colocados nos três eixos. Não resisto a mostrar a fórmula de rotação de um ponto: “=IF(AND(B17=”";C17=”";D17=”");”";((100/(0,866)-((100-(100*($J17-$C$13)/($D$13-$C$13)))/(0,866)-((100*($H17-$C$9)/($D$9-$C$9))/1,73205)))/$F$346)*($F$341-$F$340))”
Poderá encontrar na rede várias versões em Excel deste gráfico. A que utilizei no exemplo foi retirada daqui, e pode consultar este ficheiro para uma uma explicação do gráfico e sua leitura.