BIOCOMBUSTÍVEIS
Geracão de etanol e biodiesel para veículos automotores a partir de produtos agrícolas (como semente de ma mona e cana-de-acúcar) e cascas, galhos e folhas de árvores,que sofrem processos físico-químicos. O Brasil está entre os maiores produtores mundiais.
PRÓS: substitui diretamente o petróleo; os vegetais usados na fabricacão absorvem CO2 em sua fase de crescimento.
CONTRA: producão da matéria-prima ocupa terras destinadas a plantio de alimentos.
Fontes: Mauro Passos, presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina, Leda Lorenzo Montero, ecologista, e Ricardo Dutra, engenheiro do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel)
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Thays Prado - Edição: Mônica Nunes
Microalgas são organismos unicelulares capazes de realizar fotossíntese, aproveitando a luz solar e absorvendo CO2 para sintetizar a própria biomassa. Exatamente por conta dessa definição, elas têm sido visadas, nos últimos anos, por diferentes setores, especialmente para a produção de biocombustíveis.
Nas usinas de açúcar e álcool, é possível utilizar a vinhaça – um subproduto poluente da produção do etanol – na produção de biodiesel de microalgas, que pode ser aproveitado nos próprios equipamentos do local.
Elas também são importantes para o seqüestro de CO2, o que tem atraído o interesse de indústrias muito poluidoras, como as cimenteiras, e as termelétricas. Quando as chaminés são conectadas a tanques de cultivo de microalgas, elas consomem o carbono em seu processo de fotossíntese.
A aviação também pretende apostar no bioquerosene a partir de microalgas dentro de alguns anos. Além disso, elas podem ser utilizadas em Estações de Tratamento de Esgoto, consumindo os nutrientes encontrados nos efluentes e contribuindo para a sua despoluição.
O número crescente de possibilidades de utilização das microalgas estimulou o Instituto Ekos a promover, com o apoio da Algae Biotecnologia, o 1º Seminário Microalgas: utilização de microalgas para produção de biocombustíveis, sequestro de carbono e tratamento de efluentes, no último dia 21 de junho. A brasileira Maria Lúcia Ghirardi, cientista-chefe do NREL – Laboratório Nacional de Energias Renováveis, da Escola do Colorado, nos Estados Unidos, foi a convidada de honra do evento.
Ela conversou com o Planeta Sustentável sobre a nova promessa no mundo dos biocombustíveis. Para a pesquisadora, entre os próximos cinco e dez anos, produtos à base de microalgas vão ganhar escala industrial. Por enquanto, os cientistas ainda possuem desafios a vencer em suas pesquisas com o material.
As microalgas atraíram a atenção do mercado nos anos 70 e, agora, em meados da última década. Qual a razão dessa retomada de interesse?
De fato, as microalgas foram alvo de muitas pesquisas após a primeira crise do petróleo, de 1970. E a fotossíntese é, realmente, um processo muito promissor para a obtenção de produtos energéticos. Mas, na época, não se chegou aos resultados esperados muito rapidamente e houve uma perda de interesse pela energia renovável de modo geral – pelo menos nos Estados Unidos. Por volta de 1995, 1996, o governo parou de investir no setor.
Agora, esse interesse voltou mais uma vez. Imagino que isso se deva tanto à volta dos altos preços do petróleo, quanto à preocupação com as mudanças climáticas, o aquecimento global. A diferença entre 30 anos atrás e agora é que, nesse meio tempo, foram desenvolvidas várias ferramentas genéticas capazes de entender melhor a biologia desses organismos e, mesmo, de manipulá-los para a obtenção de maior produtividade.
Atualmente, estamos em uma posição melhor, com mais capacidade para estudar e sintetizar produtos bioenergéticos.
Além dos Estados Unidos, que outros países estão avançados em termos de pesquisas nessa área?
A aplicação de microalgas é muito avançada em Israel, que tem um programa de cultivo de algas muito grande. Eles desenvolveram conhecimento e tecnologia avançados, que eu acredito que os Estados Unidos ainda não têm. Estamos aprendendo muito com eles. Existem outros países que também estão investindo muito dinheiro nisso: os do Norte da Europa e a China, por exemplo.
É uma área que vai ter muito sucesso, apesar de não ser imediato. Ainda vai levar de cinco a dez anos, porque requer mais pesquisas e também uma mudança de atitude das pessoas, mas é algo que tem que acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Quais os principais desafios em termos científicos e técnicos?
Há vários.
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Biodiesel leva energia elétrica para zona rural |
quarta, 10 novembro 2004 . Diário do Nordeste | |
Fiat Lux... Faça-se a luz! E graças ao biodiesel extraído da mamona, a isolada comunidade de Serrinha de Santa Maria, composta por 27 famílias, pode agora contar com as facilidades e possibilidades da energia elétrica. O biodiesel é produzido em uma usina experimental localizada na Fazenda Normal, em Quixeramobim. O povoado está localizado em um pequeno vale, escondido por serras, no sertão de Quixeramobim. Partindo da terra de Antônio Conselheiro, são 24 quilômetros de asfalto, mais 26 quilômetros morro acima, trafegando numa precária estrada carroçável. Pela primeira vez na história da comunidade, eletrodomésticos como geladeiras e televisões começam a fazer parte do cotidiano das famílias. O isolamento favoreceu os casamentos entre primos, de tal maneira que praticamente todas as famílias tem laços de parentesco entre si. Com o advento da energia elétrica, os laços foram estreitados, e começam a surgir parcerias econômicas. Dona Maria Lúcia faz seus planos. “Me junto A ISOLADA COMUNIDADE de Serrinha de Santa Maria, em Quixeramobim, vivencia, agora, as facilidades de ter luz e eletrodomésticos em casaei com mais cinco colegas, e estamos iniciando uma criação de galinhas caipiras, e de ovos também. A galinha caipira, que antes só o povo da roça consumia, hoje está sendo valorizada na cidade. Com a energia, poderemos aumentar a produção”. Francisco Odilon, filho de dona Maria Lúcia, tem pretensões similares. “Eu lido com gado, e estou me associando com os vaqueiros daqui para comprarmos um motor movido a energia elétrica. Aqui no alto da serra existem vários olhos dágua, podemos ter capim boa parte do ano, e com a máquina poderemos fazer silagem para os animais. Temos um motor movido a combustível, mas os gastos e a manutenção são proibitivos”, explica. Mas nem só o trabalho povoa a mente de Odilon. O jovem cresceu se divertindo com os folguedos do bumba-meu-boi. Seu pai era o “caboclo”, na festa folclórica. “Infelizmente, o boi foi morrendo. Agora, com a luz, fazemos duas “animações” mensais, festas movidas a forró. No forró surgiu a idéia de reativarmos a tradição do bumba-meu-boi”. “As crianças daqui não conhecem o boi. Pretendemos reaviva-lo, isso une a comunidade”, afirma dona Maria. “Precisamos de recursos da Secretaria de Cultura de Quixeramobim para confeccionarmos as fantasias do boi e para comprar uma sanfona para nossas animações. Às vezes as festas são canceladas porque não conseguimos emprestado o instrumento”, completa Francisco Odilon. A luz traz consigo o lazer, certamente. “Agora tá cheio de televisão aqui, é ‘os homens’ assistindo futebol, e as mulheres assistindo novela e fofocando depois”, conta o aposentado Edmilson Pereira Duarte. “Para mim, o mais importante foi aposentar a lamparina. Aquela fuligem incomodava demais os meus olhos e pulmões”. Para o almoço, a família Silva e os líderes comunitários mostram-se receptivos com os visitantes. Mesa farta de comidas caseiras de encher os olhos. Arroz, fava que foi plantada por ali mesmo, ovos de galinha caipira, e tilápia frita, pescada no açude da comunidade. A comunidade de Serrinha está sendo uma das primeiras a conhecer as vantagens do biodiesel. O produto está na pauta de prioridades do governo federal. Em sua última audiência concedida sobre o tema, o presidente Luís Inácio Lula da Silva declarou que o Programa Nacional do Biodiesel tem endereço preferencial para as regiões semi-áridas. Também declarou que depositava nas lavouras familiares de mamona uma rara opção de desenvolvimento. “Claridão” aumentou as vendas Antônio Adalberto da Silva é o proprietário da única bodega da comunidade. “A claridão atraiu mais gente para comprar aqui. As animações aumentaram minhas vendas. Eu tenho uma geladeira a gás de cozinha, mas um botijão custa 30 e muitos reais. Com a luz, economizo e lucro um pouco mais”. A professora de ensino fundamental, Cristina da Silva, ganhou um período extra para desenvolver suas atividades pedagógicas. “Tenho mais tempo para cuidar da casa durante o dia, e preparar aulas e corrigir provas à noite”, diz. “E eu posso fazer a lição de casa depois da novela”, exclama sua aluna, Rose da Silva Farias. Antônio da Silva e Davi da Silva, irmãos de Adalberto e Cristina, são os responsáveis pelo funcionamento do gerador de energia elétrica. Cada 12 litros de biodiesel de mamona garantem três horas e meia de luz para as famílias. O gerador é ligado às 17h30min, e desligado às 21 horas. E esse é justamente o problema. Todos os moradores almejam, evidentemente, contar com a energia durante as 24 horas do dia. Mas a produção de biodiesel da usina recentemente inaugurada na Fazenda Normal ainda não é suficiente para tanto. “Em 2005, aumentaremos a área de plantio de mamona, atualmente de 70 hectares, para 200 hectares”, explica o funcionário da usina, Rogério Mesquita Saldanha. “E o pessoal da comunidade vai plantar mamona consorciada com milho e feijão”, garante Antônio da Silva. O biodiesel é transportado semanalmente, da Fazenda Normal para Serrinha de Santa Maria. Durante o inverno, porém, a situação da estrada de terra piora sensivelmente, aumentando o risco de acidentes. O próprio ato do transporte do biodiesel é questionável, pois implica poluição atmosférica. Em uma situação ideal, o gerador seria instalado ao lado da usina, e a energia seria repassada à comunidade via fiação elétrica. Mesmo assim, são inquestionáveis os benefícios trazidos pela luz aos moradores. Fábio Angeoletto sucursal Quixadá |
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