Ku Klux Klan
Organização racista branca estadunidense. O nome, cujo registro mais
antigo é de 1867, parece derivar da palavra grega kuklos, que
significa 'círculos, anel', e da palavra inglesa clan (clã) escrita
com k. Essa transcrição incorreta pode ter sido intencional, mas parece
indicar o baixo nível de escolaridade de seus prováveis fundadores,
agricultores brancos pobres hostis à competição com os negros libertos
após a Guerra da Secessão. Devido aos métodos violentos da KKK, há a
hipótese de o nome ter-se inspirado no som feito quando se coloca um rifle
pronto para atirar. A organização buscou manter seu domínio através do
terror, estimulando o linchamento de negros e, quando era mais influente,
pressionando políticos. Além de pregar o racismo, a KKK defende valores
tradicionais do American way of life, como a fé cristã protestante,
a fidelidade conjugal, o etnocentrismo e a democracia só para os brancos.
Após a Guerra da Secessão (1861-1865), brancos protestantes do sul dos
EUA, derrotados na guerra, criaram, em 1866, na cidade de Pulaski,
Tennessee, uma organização secreta com este nome afim de manter seu
domínio local. Em 1915, na Geórgia, uma organização de mesmo nome e
objetivo também foi criada. Pode, assim, não ter havido uma única origem
para KKK. A organização que apareceu inicialmente no sul era voltada para
a realidade deste. Seu alvo principal era evitar que os negros usufruíssem
seus direitos de cidadão. Ela iniciou como uma fraternidade, mas logo
passou a vigiar a sociedade local. Militares confederados, como o General
Nathan Bedford Forrest, transformaram a KKK numa força paramilitar, em
1867. A ordem difundiu-se rapidamente a partir daí, surgindo nessa época,
na Louisiana, um grupo que se denominava Knights of the White Camellia. Os
líderes da Klan vinham principalmente da elite, particularmente dos
proprietários de terras, embora seus membros estivessem em todos os
níveis. A Klan era uma organização de base rural; às vezes, suas vítimas
fugiam para a cidade. Os ataques não se limitavam a negros; brancos
protestantes inimigos da KKK também podiam ser perseguidos. Hostilizavam
também o Partido Republicano, o que levou a conflitos armados entre eles,
exigindo às vezes intervenções federais. A "primeira Klan" deve ter
encerrado sua existência por volta de 1870. Na passagem do século, porém,
ela ressurge, estimulada pelo nacionalismo gerado pela I Guerra Mundial.
Dessa vez expande-se pelo país e atinge um número muito maior de membros -
em 1920, calcula-se que teria 3 milhões de membros. Chegou ao poder em
Indiana, Oklahoma, Oregon e em outros estados. Esta "segunda Klan" era
principalmente urbana, de classe média e religiosamente fundamentalista.
É, entre outras coisas, anti-indígena, anti-amarela, anti-negra,
anti-católica, anti-judia, anti-comunista. A maioria dos membros da KKK
não adotava a violência física; muitos a viam como uma sociedade. Apoiavam
os candidatos indicados pela Klan e participavam de suas cerimônias. A
prática de por fogo em uma cruz parece ter se originado da novela de
Thomas Dixon, The Clansman, de 1905. Esta Klan desintegrou-se após
1920, havendo, porém, pequenos grupos remanescente até os anos '40. Uma
"terceira Klan" apareceu em 1946, provavelmente como reação ao avanço
comunista no mundo e, depois, às campanhas pelos direitos civis promovidas
principalmente pelos negros. Seus membros são em sua maioria do sul e da
classe econômica baixa. Por volta dos anos '60, seus membros seriam em
número de 17 mil. Atualmente ela está dividida em pequenos grupos e sua
força política não reflete nem de perto o que já foi no passado. Em 1979,
o North Carolina Klansmen uniu-se aos nazistas estadunidenses e formou o
United Racist, de curta duração. Tem-se aproximado de outras organizações
similares, como a Aryan Nations.
O que é a Ku Klux Klan?
Alexandre Versignassi e Eliano Jorge
Começou como uma
brincadeira. Em 1865, 6 jovens da cidadezinha americana de Pulaski,
Tennessee, resolveram espantar o tédio de um jeito diferente: fundar uma
microssociedade secreta, tipo uma maçonaria particular. Bem-humorados,
decidiram que os membros receberiam títulos engraçados. Então o chefe
seria o "Cíclope Máximo"; o secretário, o "Grande Escriba". E por aí
vai. O nome da irmandade precisaria ser algo indecifrável, imaginavam.
Um deles sugeriu a palavra grega kyklos - que quer dizer
círculo (de amigos, no caso). Outro achou que isso cairia bem com a
palavra clã. E ficou Ku Klux Klan. A curtição deles era cavalgar à
noite, incógnitos sob lençóis e fronhas brancas, para desconcertar os
vizinhos. Nada demais. Só que aí a sociedade de brincadeira foi juntando
cada vez mais membros. E a coisa degringolou. O movimento racista estava
no auge, já que os escravos acabavam de ser libertados pelos vencedores
da Guerra Civil Americana, os estados do Norte. E as cavalgadas noturnas
viraram perseguições a negros. Em um ano a Klan já tinha virado uma
organização assassina. Presente em vários estados, tinha ex-generais
sulistas entre os cabeças e contava com o financiamento de agricultores,
prejudicados pela alforria. Depois de inúmeros linchamentos, estupros,
castrações, incêndios e enforcamentos, a Klan finalmente foi reconhecida
como uma entidade terrorista e acabou banida pelo governo americano em
1872. Voltaria em 1915, mas foi perdendo prestígio ao longo do século
20. Hoje, ela tem uns 3 mil membros, que se dedicam a distribuir
panfletos racistas. Ah, claro: é apenas um entre os mais de 700 grupos
dedicados ao ódio em atividade nos EUA.
Terror virtual
Houve mais linchamentos de negros nos EUA quando a Klan estava proibida
do que quando ela voltou em 1915. Foram cerca de 2 mil entre 1890 e
1909; e "só" 400 entre 1920 e 1939. É que a imagem da KKK já metia tanto
medo que eles nem precisavam agir muito para deixar a população negra
aterrorizada .
Ave, César
A saudação tradicional da KKK parece a dos nazistas. Mas é só
coincidência: as duas têm origem romana. Mas não é por acaso que a Klan
tenha se associado a grupos neonazistas dos EUA. Hoje eles também são
contra judeus, árabes, hispânicos...
Com que roupa eu vou?
Hoje há pouca unidade na
Klan, e o poder, na prática, é descentralizado. O que resiste são os
modelitos feitos para destacar as hierarquias mais altas da massa de
lençóis brancos: o manda-chuva local veste vermelho; a polícia secreta,
preto.
A vida imita a arte
O cineasta D.W. Griffith enche a bola da KKK na superprodução O
Nascimento de uma Nação (1915), que pinta a Klan como um grupo de
nobres cavaleiros que salvaram o Sul dos EUA da "anarquia negra".
Turbinada pelo sucesso do filme, a organização voltou na hora à ativa,
após 43 anos de ostracismo.
Nonsense
A Klan tradicional louvava a Deus e ao Diabo. Hoje os membros se dizem
"cristãos brancos". Mesmo assim, o nome de seu livro sagrado faz uma
alusão ao Alcorão, islâmico. É o Kloran (ou "Klorão").
Nação fantasma
A bandeira dos 13 estados separatistas do Sul virou símbolo racista. É
reverenciada pela Klan, e por mais gente do que se imagina: em 2001, um
plebiscito apontou 65% de votos pela manutenção dela como bandeira do
estado do Mississippi.
As muitas vidas da Ku Klux Klan |
A
organização racista nasceu após a Guerra de Secessão, mas seus
fantasmas assombram até hoje os Estados Unidos. |
por Paul-Eric Blanrue |
Estamos em 1865. Em um sul devastado,
arruinado pelo desemprego e pela miséria, jovens veteranos da
confederação sulista, o conjunto de estados que se separou da união,
inventam algo para passar o tempo.
No dia 24 de dezembro, em Pulaski, obscuro centro administrativo do
Tennessee, seis deles - Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John
Kennedy, John Lester e James Crowe - se reúnem para fundar uma
associação. Nada de política. A idéia era apenas prolongar a
fraternidade das armas. Respeitando a tradição dos clubes de
estudantes, os colegas batizaram a comunidade com um nome cercado de
mistério.
Egresso do center college do kentucky, kennedy adotou a palavra grega
kuklos, que significa "círculo". Crowe a dividiu em dois e mudou o
final, chegando a "ku klux". Observando que os fundadores eram de
origem escocesa, lester propôs acrescentar ao nome uma evocação ao
"clã", em harmonia com a ortografia adotada. Crowe achou divertida a
idéia de fantasiar os membros, assim como seus cavalos, com panos e
capuzes roubados da casa de seus hóspedes. Assim nascia a ku klux klan.
O que começou como uma brincadeira logo mudou de natureza. Os desfiles
mascarados, realizados pelos seis amigos, tinham como objetivo
aterrorizar os negros, sem instrução e supersticiosos, que acreditavam
cruzar com os fantasmas dos confederados mortos em combate.
Instrumentalizavam, portanto, o medo do além. Os sulistas empobrecidos
viram nisso uma oportunidade de trazer de volta para o trabalho nas
plantações os 4 milhões de negros que Abraham Lincoln tinha liberado
com a Proclamação da Emancipação de 1o de janeiro de 1863. Não
precisava de mais nada para os encapuzados seguirem com sua
perseguição. Sob o pretexto de manter a ordem, divertiam-se em
aterrorizar os negros, utilizando diversos dispositivos para dar
credibilidade a seus poderes sobrenaturais: ossos de esqueletos
escondidos sob os tecidos com que se cobriam, para apertar a mão dos
antigos escravos alforriados, abóboras habilmente recortadas, que
colocavam e retiravam rapidamente, para evocar a lenda do cavaleiro
sem cabeça etc.A Klan adquiriu,
assim, uma sólida notoriedade na região. Para evitar as denúncias, o
segredo se tornou um componente essencial da pequena comunidade,
ajudado pelo anonimato garantido pelo capuz e reforçado pelo uso de
títulos esotéricos e ritual iniciático: numa seleção impiedosa, o
infeliz candidato a membro era punido por sua curiosidade, sendo
fechado em um tonel e empurrado para rolar de um barranco.
Tentados pela perspectiva de aplicar, impunemente, trotes contra
negros, candidatos das cidades vizinhas afluíam. Os de Athens, no
Alabama - onde os professores do Norte tratavam os alunos negros em
igualdade com os brancos -, foram os primeiros a introduzir o castigo
físico, ao mergulhar numa fonte gelada um negro que viram montar a
cavalo com uma professora. Em menos de um ano, os "Atenienses" foram
seguidos por centenas de outros grupos mais ou menos autônomos. Quanto
mais a Klan se desenvolvia, mais a gama de violências aumentava. No
começo de 1867, em Nashville, no Texas, o núcleo de Pulaski,
sentindo-se ultrapassado pelos acontecimentos, tentou retomar o
controle das operações. Adotou uma proclamação dos princípios
fundamentais da Klan, definidos como uma "instituição cavalheiresca,
humanitária, misericordiosa e patriótica". Estipulou-se um organograma
- um tipo de hierarquia medieval fantasiada, que estabelecia
diferentes filiais. Foram redigidos o regulamento e as dez questões
colocadas aos postulantes. Cada estado tornou-se um reinado governado
por um Grande Dragão; cada distrito era um domínio, dirigido por um
Grande Titã; cada condado ou província ficava sob a autoridade de um
Grande Gigante. Tudo constituía o "Império Invisível", dominado pelo
Grande Feiticeiro. As funções mais modestas eram ligadas a títulos
como Grande Monge, Grande Escriba ou Grande Turco.
O dever sagrado de qualquer klanista era "a manutenção da supremacia
da raça branca na república". Um objetivo justificado pela sacrossanta
"psicologia" (os negros são verdadeiramente homens?) e por uma
teologia rudimentar: "O Criador, nos elevando dessa forma acima do
nível ordinário dos humanos, quis nos dar, sobre as raças inferiores,
um poder que nenhuma lei humana pode nos retirar de maneira
permanente". Corolário político: apesar de jurar fidelidade à
Constituição americana, da qual se vê herdeiro exclusivo, por ser
branco, o klanista prestava juramento de "se preservar" das leis do
governo federal, cujo poder era declarado "arbitrário e ilícito". A
ruptura com a legalidade foi, assim, consumada. A Klan se tornou um
contrapoder clandestino. Sustentada pela maioria dos brancos do Sul e
composta por "tipos incômodos" recrutados em todas as classes sociais,
a Klan devia sua eficácia sobretudo a seus altos dignitários, dos
quais a maior parte eram antigos oficiais confederados. Previsto para
ser o primeiro Grande Feiticeiro da KKK, o general Robert Edward Lee,
ex-comandante-chefe dos exércitos do Sul, declinou o convite, mas
aceitou ser o presidente "invisível".
Para a presidência efetiva designou, em 1867, outra estrela lendária,
o general Nathan Bedford Forrest. Ele havia acumulado uma fortuna como
mercador de escravos e suas tropas massacraram os soldados negros que
se renderam em Fort Pillow, aos gritos de "Matem os negros!". Era o
homem de que a Klan precisava. Uma de suas manobras consistiu, em
1869, em proceder à dissolução solene da organização. Na realidade,
Forrest blefava e sua intenção era colocar o "Império" numa
clandestinidade cada vez maior.
Ondas da violência
As atividades da Klan eram invariavelmente baseadas no racismo. Uma
delas, pouco conhecida, era de ordem eleitoral. Consistia em obrigar
os negros, por meio de visitas-surpresa no meio da noite, acompanhadas
por chibatadas e ameaças de morte, a votar pelos democratas (os
republicanos eram assimilados aos inimigos do Norte) ou a se abster. A
estratégia era considerada rentável, já que o eleitorado negro dava,
pouco a pouco, seus votos para as listas sustentadas pela Klan. A
organização também declarou guerra ao arsenal de liberdades concedidas
aos negros, principalmente a livre associação. Um certo número deles
aderiu à Loyal League, que cultivava o pensamento igualitário de
Lincoln e autorizava seus membros, a partir de 1867, a portar armas.
Isso era algo impensável. Durante o primeiro semestre de 1868, o
Grande Feiticeiro percorreu seus estados convocando para a
mobilização.
Cada uma de suas passagens era seguida por uma onda de violência.
Respondendo a um jornalista de Cincinnati, Forrest explicou: "Os
negros faziam reuniões noturnas, iam e vinham, tornando-se
extremamente insolentes, e todo o povo do Sul, em todo o estado,
estava muito preocupado". Ele se resguardou de condenar a justiça de
seus próprios militantes, que, em nome da "preocupação" dos cidadãos
americanos, tiravam ilegalmente prisioneiros negros de suas celas para
pendurá-los em árvores.
A Klan atacava os negros que tinham conseguido juntar alguns bens no
pós-guerra, em nome do raciocínio segundo o qual eles eram
preguiçosos, inconstantes e economicamente incapazes e, por natureza,
destinados à escravidão. Esse foi o caso de Perry Jeffers, instalado
com a mulher e sete filhos numa plantação da Geórgia como meeiro. Ele
gozava de uma excelente reputação junto a seu patrão. A Klan decidiu
fazer com que ele pagasse por seu sucesso. Um dos filhos de Jeffers
respondeu ao ataque. Resultado: uma morte do lado da Klan. Na ausência
de Jeffers, os "cavaleiros" da Klan voltaram com reforço. Enforcaram
sua mulher, fuzilaram e depois queimaram o filho mais novo numa
fogueira. Por sorte, a esposa foi salva da agonia por um médico -
depois assassinado pela Klan. Aterrorizado, Jeffers tentou fugir para
a Carolina do Sul. Pegou o trem com os filhos, mas o vagão em que
estava foi invadido por klanistas, que o forçaram a descer na última
parada da Geórgia.
Algumas horas depois, foram encontrados os cadáveres, crivados de
balas. Na história da Klan, contavam-se mortes desse tipo às centenas.
A Klan "mantinha a ordem". Natural e social.
Outro alvo privilegiado eram os funcionários ianques, ou seja, do
Norte, e mais precisamente os professores que, vindos dali, davam
aulas para os negros nos estados do Sul. Perigo terrível: se os negros
se instruíssem, o retorno à época de ouro da escravidão seria
impossível, pensavam. Toca-se aqui no calcanhar-de-aquiles da doutrina
klanista. Temer a instrução dos negros era admitir, no fundo, que
estes tinham em si as mesmas capacidades dos brancos. Tudo poderia
ser, então, uma questão de instrução e nível social. Os jovens
professores eram considerados traidores, responsáveis pela decadência.
Daí os insultos e cartas ameaçadoras que começaram a aparecer: "Antes
do fim do próximo quarto [de lua], desapareça, professor ímpio de
negros! Desapareça antes que seja tarde! O castigo o espera com tais
horrores que nenhum homem poderá sobreviver". No Mississipi a
repressão atingiu seu maior grau: escolas incendiadas, mestres
roubados, assassinatos.
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Muitos se foram. Alguns idealistas permaneceram. O diretor da
First Coloured School, John Dunlap, era um deles. Mas não por
muito tempo: "Havia mais ou menos cinqüenta homens a cavalo
armados com pistolas. Eles estavam todos mascarados.
(...) Apareceram diante da minha porta por volta das dez horas da
noite (...) Atiraram duas vezes em mim através da janela". Os
klanistas o seqüestraram e o levaram para um lugar a vários metros
dali. "Eles me colocaram de pé no meio da estrada e me fizeram
baixar as calças, tirar a camisa, depois enrolaram-na em minha
cabeça.
Então, exceto oito entre eles, cada um me deu cinco chibatadas.
Sempre a mesma chantagem: o chefe disse que não me bateria mais se
eu saísse do estado." Dunlap foi embora.
A Klan não recuava diante de nada. Tratou de liquidar até o
senador republicano Stephens, apunhalado em pleno tribunal. Diante
de tais excessos, o governo decidiu reagir firmemente. Em 20 de
abril de 1871, o presidente Ulysses S. Grant assinou um ato
draconiano, que colocava o grupo na ilegalidade. Autorizava,
inclusive, o uso da força para dissolver núcleos de associados.
Seis meses mais tarde, foi decretada a lei marcial em nove
condados da Carolina do Sul. Membros do exército denominados Azuis
foram enviados para lá, imediatamente, e realizaram milhares de
prisões. Por falta de provas, a maioria dos detentos foi solta,
mas a derrota foi dolorosa. Para escapar à perseguição, os membros
da Klan se espalharam em novos organismos: White League, Shot Gun
Plan, Rifle Club. Mas a Klan original, mesmo, foi aniquilada.
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Sono de meio século
Para os rebeldes do Sul, nostálgicos exaltados, os klanistas
adquiriram logo o status de heróis românticos. O retorno à
atividade política aconteceria por uma via inesperada: o
lançamento, em 1915, do filme O nascimento de uma nação, de D.
W. Griffith, baseado em romance de Thomas Dixon. Nessa obra o
diretor, segundo afirma o guia de filmes de Jean Tulard, "não
esconde a simpatia pelos sulistas e toma abertamente partido
pela Ku Klux Klan". O presidente dos Estados Unidos, Woodrow
Wilson, apoiou o filme. Para um de seus espectadores, William
J. Simmons, era uma revelação. Originário do Alabama, veterano
da guerra contra a Espanha, pregador metodista, representante
comercial e associado a diversas sociedades maçônicas, Simmons
tirou proveito do sucesso do filme e do descontentamento
popular devido às imigrações recentes para relançar a KKK. No
dia de Ação de Graças de 1915, aquele que se autoproclamava
"coronel" reuniu alguns fiéis no cume da Stone Mountain, a
leste do Alabama. Ele incendiou uma imensa cruz de madeira:
"Eis o Império invisível tirado de seu sono de meio século".
A Klan em "novo formato" retomou a receita que fez o sucesso
do antigo: supremacia branca e racismo antinegro. E
acrescentou a rejeição ao catolicismo, considerado invasor. A
imigração recente incitava a cultivar o anti-semitismo e a
xenofobia. Mas esse renascimento parecia bastante com uma
operação comercial. Cada associado pagava uma cotização, tinha
uma apólice de seguro, comprava sua veste de klanista etc. Com
o capitalismo, o "espírito do Sul" se perdeu no caminho. E
depois, sobretudo, contrariamente à antiga Klan, o Grande
Feiticeiro tentou legalizar a estrutura - e não hesitou em
propor seus serviços ao poder público: os fundadores da Klan
original devem ter se remexido em suas tumbas.
No entanto, a KKK só se desenvolveu realmente a partir de
1920, com a entrada em cena de dois novos associados de
Simmons, o ex-jornalista Edward Clarke e a rica viúva
Elizabeth Tyler. Objetivo: desviar, em seu favor, a forte
corrente isolacionista que atravessava o país. A América,
antes de tudo. Especialista em organização e publicidade,
Clarke tornou-se chefe do estado-maior. Ele fixou o
quartel-general em Atlanta, reinstaurou, grosso modo, as
antigas subdivisões e o ritual clássico de iniciação,
multiplicou os desfiles em que queimava cruzes, deu um salário
aos que exerciam uma função no seio da Klan.
Em um ano, o Sul foi "reconquistado" e, novidade, o Norte -
onde os negros pobres se espremiam nos bairros suburbanos -
ficou seriamente tentado, em particular os estados de Indiana,
Oklahoma e Oregon. Republicanos e burgueses das cidades
ficaram seduzidos. Estima-se que o número de klanistas logo
chegou a cinco milhões. Como numa holding, a Klan aproveitou o
apoio popular para diversificar suas atividades: publicou
jornais e folhetos, comprou imóveis, assumiu o controle da
Lanier University. Alcoólatra, Simmons foi deposto e
substituído pelo dentista franco-maçom (32.° grau) Hiram W.
Evans, de Dallas, que se tornou Feiticeiro Imperial e
aproveitou igualmente para expulsar Clarke e Tyler. |
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Em 1924, durante a renovação do corpo legislativo, 11
governadores e diversos senadores receberam a investidura da
Klan. Triunfo. O QG mudou-se para Washington. No ano seguinte,
uma lei restringindo a imigração foi votada. Para demonstrar
sua força, a Klan organizou um desfile monstruoso na capital.
Mas o entusiasmo não tardaria a cair de novo. Fortalecido pela
relativa neutralidade da polícia e pelo apoio de diversos
magistrados locais, a Klan, copiosamente armada, multiplicou
seus atos de crueldade. Os "negros" que a organização caçava,
ou aqueles que se confraternizavam com eles, homens da lei -
políticos e pastores incluídos -, tinham os cabelos raspados,
eram marcados na testa com as três iniciais klânicas,
açoitados ou ainda cobertos por asfalto, no qual enfiavam-se
plumas. Apresentando-se como guardiã da moralidade pública, a
Klan punia as mulheres adúlteras, os médicos charlatões, as
prostitutas e os marginais. O cenário era repleto de crimes
assustadores, como o de "justiçados" moídos por um trator.
Lei antimáscara
Como reação, a Louisiana votou uma lei antimáscara (proibição
de usar máscaras fora do Dia de Todos os Santos e do
carnaval), adotada em seguida por outros estados. A perda de
respeitabilidade da KKK, unida a divisões internas, levou à
degradação de seu público, apesar de a organização continuar a
realizar expedições punitivas, desempenhando por exemplo o
papel de supervisora de uma agremiação de patrões contra os
sindicalistas, cuja cota estava em alta depois da crise de
1929.
Nos anos 1930, o nazismo exerceu uma certa atração sobre a KKK.
Não passou disso, porém. A aproximação com germanistas foi
bruscamente encerrada na Segunda Guerra Mundial, depois do
ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, quando muitos
membros se alistaram no exército para lutar contra o "perigo
amarelo". Só faltava o tiro de misericórdia ao império
invisível. Em 1944, o serviço de contribuições diretas cobrou
uma dívida da Klan, pendente desde 1920. Incapaz de honrar o
compromisso, a organização morreu pela segunda vez.
Apesar de diversas tentativas de ressurreição (num âmbito mais
local que nacional), a KKK não obteve mais o sucesso de antes
da guerra. As mentalidades evoluíram. A ameaça de crise estava
a partir de então descartada, tendo o soldado negro mostrado
que era capaz de derramar tanto sangue quanto o branco.
Finalmente, o "traidor" Stetson Kennedy contribuiu para
desmistificar a organização, liberando todos os seus segredos
no livro Eu fiz parte da Ku Klux Klan. Alguns klanistas ainda
insistiram e suscitaram, temporariamente, uma retomada de
interesse entre os WASP (sigla em inglês para protestantes
brancos anglo-saxões) frustrados, que não compunham mais a
maioria da população americana.
Nos anos 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas
escolas públicas despertou novamente algumas paixões, e cruzes
se acenderam. Seguiram-se batalhas, casas dinamitadas e novos
crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos,
durante protestos raciais). Os klanistas tentaram se reciclar
no anticomunismo, combatendo os índios ou atenuando seu
anticatolicismo fanático.
Mas nada surtiu grande efeito e o declínio da Klan já tinha
começado desde o fim dos anos 1960, época em que só contava
com algumas dezenas de milhares de membros. Depois, podia-se
tentar distinguir os Imperial Klans of America dos Knights of
the Ku Klux Klan, ou ainda dos Knights of the White Camelia,
alguns dos vários nomes das tentativas de ressurgimento. Mas
os klanistas não eram mais uma organização de massa. Apesar
das proclamações tonitruantes e de provocações episódicas, as
"Klans" não reuniam mais do que alguns milhares de membros,
comparáveis assim com outros grupelhos neonazistas com os
quais às vezes mantinham relações. O império invisível não
parece estar perto de renascer uma segunda vez.
-Tradução de Graziella Beting |
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Cronologia |
1865
Em 24 de dezembro, no Tennessee, foi realizada a primeira
reunião da Ku Klux Klan
1869
Dissolução solene da KKK por seu chefe, general Nathan Bedford
Forrest,
um estratagema de tornar suas
atividades mais secretas
1915
Sucesso do filme O nascimento de uma nação, de D. W. Griffith,
em que o cineasta toma partido da KKK
1920
Novo impulso da KKK com o jornalista Edward Clarke e a rica
viúva Elizabeth Tyler
1944
Sem fundos para pagar uma dívida antiga, a Klan desaparece
"oficialmente" pela segunda vez |
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