"Porque ninguém pode lançar
outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo" (1
Coríntios 3.11).
Quando minha esposa me deu de presente de aniversário o livro "O
Código Da Vinci" (Editora Sextante) em maio de 2004, eu sabia que
estava diante de um best-seller americano de 2003 que continuaria
vendendo milhões de exemplares nos próximos anos. Não tinha ignorado as
revisões e resenhas desse livro na internet e estava consciente de que
se tratava de um daqueles livros que dizem que o cristianismo está todo
errado e a adoração à deusa é o caminho.
Dan
Brown, autor do romance, não nos revela, no decorrer de suas quase 500
páginas, um novo evangelho, mas apenas antigas colocações gnósticas e
nova-erenses sobre a vida de Jesus Cristo e os primórdios da igreja
cristã.
Eis
suas fontes principais: O Evangelho de Filipe e O Evangelho de
Maria (ambos são textos gnósticos descobertos em Nag Hammadi, no
Alto Egito, em 1945); o livro Holy Blood and Holy Grail e sua
linhagem de sangue, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry
Lincoln, publicado inicialmente em 1981; o livro The Templar
Revelation: Secret Guardians of the True Identity of Christ, de Lynn
Picknett e Clive Prince. Um outro livro do gênero pesquisado por Brown
foi: The Woman with The Alabaster Jar: Mary Magdalene and the Holy
Grail, de Margaret Starbird. Estudiosos respeitáveis encontraram
defeitos insuperáveis em todos esses livros. Todos eles têm um forte
teor especulativo e um alto apelo a favor das doutrinas da Nova Era.
O fato é que o livro é um sucesso de vendas em todo o mundo. A
Columbia Pictures adquiriu os direitos para transformá-lo em filme e
contratou o famoso diretor Ron Howard (o mesmo de Uma Mente Brilhante)
para dirigir essa película.
A
propósito, o autor Dan Brown está sendo judicialmente processado de
plagiar o livro Daughter of God (Filha de Deus), de Lewis Perdue.
Segundo Perdue, existem "trinta elementos" de semelhanças significativas
entre Daughter of God e "O Código Da Vinci". Bem, se Dan
Brown plagiou ou não as idéias de outros autores é problema dele.
Um livro alicerçado nas doutrinas da Nova Era
Antes
de passarmos para uma análise mais detalhada do romance, é muito
importante o querido leitor entender que o autor está imbuído em passar
doutrinas da Nova Era e que acredita piamente no que escreve como se
fosse verdade.
Dan
Brown é muito vivo ou muito covarde. Ele não responde às acusações dos
vários padres, teólogos, historiadores, jornalistas e artistas que
literalmente descredenciaram "O Código Da Vinci". Brown dá
entrevistas em redes nacionais, faz palestras, mas não participa de
debates. Vive sossegado escrevendo outros romances, em sua casa no
estado de New Hampshire, enquanto escuta músicas da Nova Era, dos CDs da
cantora Enya.
Segundo o romance, "as verdades" sobre Maria Madalena deveriam ter vindo
à tona na virada do milênio, entre "o final da era de Peixes e o início
da era de Aquário" (p.423).
Veja
esse relato sobre a importância da revelação da "verdade" durante a era
de Aquário: "Estamos entrando na era de Aquário, cujos ideais rezam que
o homem irá conhecer a verdade e ser capaz de pensar por si
mesmo" (p.285). O que Dan Brown não diz é que a suposta verdade da Nova
Era é a velha mentira proclamada pela serpente no Éden. Aquela farsa de
que o homem descobriria que ele próprio é Deus: "sereis iguais a
Deus" (Gênesis 3.5).
O
repórter Charlie Gibson, em entrevista no programa Good Morning
America, da Rede de Televisão ABC, em novembro de 2003, perguntou a
Brown: se escrevesse um outro livro só contendo os fatos sobre "O
Código Da Vinci", ele seria muito diferente? O autor respondeu: "Não
iria ser diferente [...] Fiz muitas pesquisas para esse livro. A teoria
descrita no meu livro é muito antiga e hoje sou um crente dessa teoria
[...] Essa teoria faz muito mais sentido para mim do que o que me foi
ensinado quando era criança".[1]
Em outras palavras, Dan Brown
acredita que os personagens do seu romance são fictícios, mas a mensagem
contida nele é verdadeira.
O romance
A
história começa em uma noite no Museu do Louvre, em Paris, onde Silas,
um monge albino vestido com um manto, atira no estômago do curador
Jacques Saunière. Silas é um membro numerário da ultra-conservadora
seita Opus Dei da igreja católica. Ele trabalha para um homem que
conhece apenas como o "mestre" (mais tarde ficamos sabendo que se trata
de Sir Leigh Teabing, um bretão ultra-rico e obcecado em encontrar o
Santo Graal). A Opus Dei, a igreja católica, e Sir Leigh Teabing
fazem parte do grupo do mal no romance, são os bandidos da história.
Jacques Saunière é um especialista em adoração à deusa e é o grão-mestre
do Priorado de Sião, uma organização secreta que esconde e protege o
"Santo Graal" (das lendas arthurianas) e os manuscritos que provam que
Maria Madalena era mulher de Jesus Cristo e juntos tiveram uma filha
chamada Sarah. Na seqüência, Madalena e seus seguidores fugiram para a
França e talvez até para a Inglaterra, evitando assim a perseguição que
lhe foi imposta pelos apóstolos, especialmente por Pedro.
Jacques Saunière, baleado, só pensou em uma coisa antes de morrer no
Louvre: passar em forma de enigmas e anagramas as informações secretas
do Priorado de Sião para a sua neta Sophie Neveu, uma agente do
Departamento de Criptologia da Polícia Judiciária francesa e
especialista em decodificação.
De alguma maneira, Jacques Saunière
consegue ficar despido, faz um círculo no chão e se posiciona dentro do
círculo de forma semelhante ao desenho "O Homem Vitruviano", de Leonardo
da Vinci. Saunière ainda conseguiu escrever com o seu próprio sangue e
com tintas visíveis e invisíveis ao olho humano alguns símbolos e
mensagens para a sua neta. Em uma dessas mensagens, pede a Sophie Neveu
que encontre Robert Langdon, um professor de simbologia religiosa da
universidade de Harvard que se encontra palestrando em Paris naqueles
dias.
Juntos, Sophie e Robert, conseguem resolver o assassinato e
posteriormente o mistério do Santo Graal. Nesse romance, o Santo Graal é
Maria Madalena, mais especificamente o seu útero, e seus restos mortais
encontram-se sepultados na pequena pirâmide, sob a pirâmide invertida,
dentro do Museu do Louvre.
Jacques Saunière, Sophie Neveu e Robert Langdon são os mocinhos do
romance, a turma boa da história.
Quase todas as colocações
contrárias ao cristianismo, à história e às artes, conforme conhecemos
hoje, nos são passadas nessa saga através das bocas dos dois personagens
mais cultos e estudiosos, a saber: Professor Robert Langdon e Sir Leigh
Teabing.
Resumindo, o romance nos leva
por toda uma noite e um dia a pontos turísticos de Paris e de Londres só
para tentar nos ensinar que a igreja cristã (especialmente a católica)
tem reprimido o conhecimento acerca do casamento de Jesus com Maria
Madalena e que isso, caso fosse descoberto, destruiria o cristianismo
(pp. 261-267).
O que
incomoda é o cinismo do autor em relatar na página preliminar algumas
falsas considerações como se fossem fatos. Brown proclama como se fosse
verdade: "Todas as descrições de obras de arte, arquitetura, documentos
e rituais secretos neste romance correspondem rigorosamente à
realidade". Então, meu prezado Dan Brown, passarei deste ponto em diante
a checar o seu romance para ter a certeza se o mesmo corresponde
"rigorosamente à realidade".
Dan Brown: historicamente desautorizado
a) No romance:
Pierre Plantard, o Priorado de Sião e os dossiês secretos são autênticos
(página preliminar, pp. 221 e 345-346):
Segundo o romance: "O Priorado de Sião – sociedade secreta européia
fundada em 1099 – existe de fato. Em 1975, a Biblioteca Nacional de
Paris descobriu pergaminhos conhecidos como Os Dossiês Secretos,
que identificavam inúmeros membros do Priorado de Sião, inclusive Sir
Isaac Newton, Botticelli, Victor Hugo e Leonardo da Vinci" (página
preliminar).
Ops!
O autor confundiu o "Priorado de Sião" com a "Ordem ou Abadia de Sião".
O "Priorado de Sião" é um movimento religioso mais recente, que surgiu
após a II Guerra Mundial. Sua existência foi anunciada em 1962 após ter
sido formalmente estabelecido em 1956. O "Priorado de Sião" não tem
qualquer conexão com a "Ordem ou Abadia de Sião" da Idade Média, como o
livro reivindicou ser um "fato" na sua página preliminar. O grupo da
Abadia foi dissolvido pelo rei Luís XIII da França em 1619.
Mais
um erro: Dan Brown acredita na autenticidade dos "Dossiês Secretos" que
contêm os nomes de todos os supostos grão-mestres do priorado e se
encontram arquivados na Biblioteca Nacional de Paris, quando, na
verdade, não passam de uma fraude. O fato que Brown não menciona é que o
líder do priorado, Pierre Plantard (1920-2000), conhecido como um
mascate, anti-semita, católico e fraudulento foi quem criou os falsos
"Dossiês Secretos" e quem os depositou na Biblioteca. Os ditos
"pergaminhos conhecidos como os Dossiês Secretos" foram uma invenção de
Pierre Plantard, conforme desmascarado no programa The History of a
Mystery (A História de um Mistério) levado ao ar pela Time Watch
BBC em 1996.
E
mais, o próprio Pierre Plantard confessou à justiça francesa em 1992 ter
sido o criador de todas as peças do Priorado de Sião com o intuito de
pô-lo no trono da França como um suposto descendente merovíngeo e de
Jesus Cristo. Há na França três locais onde qualquer pessoa pode obter
documentação judicial e criminal sobre Pierre Plantard, a saber: a
Prefeitura de Polícia de Paris, a Sub-Prefeitura de St. Julien em
Geneveis e o Tribunal de Grande Instância de Thonon les Bains.
Então
o Priorado de Sião, do qual o autor nos transmite a imagem de ser uma
sociedade secreta séria, não passa de uma farsa armada pelo senhor
Pierre Plantard.
b) "Os
Manuscritos do Mar Morto foram encontrados na década de 50" (página
251):
Brown
errou na década! Os manuscritos do Mar Morto que confirmam a
autenticidade de vários textos do Velho Testamento foram descobertos a
partir da segunda metade da década de 40, em onze cavernas na região de
Qumram.
c) "Mais de 80 evangelhos foram estudados para compor o Novo Testamento" (página 248):
Puxa!
O autor é ruim em números! Dos 52 textos gnósticos e filosóficos
descobertos em Nag Hammadi, no Alto Egito, apenas cinco eram evangelhos,
a saber: Verdade, Tomé, Filipe, Egípcios e Maria.
E mais: os evangelhos de
Tomé, Filipe e Maria não foram escritos pelos respectivos
personagens bíblicos. Foram escritos mais de um século após a morte de
Cristo e só Deus sabe quem eram esses autores que se passaram por Tomé,
Felipe e Maria. O próprio apóstolo Paulo nos alertou sobre autores
fraudulentos: "epístolas (cartas) supostamente vindas de nós" (2
Tessalonicenses 2.1-2).
d) "Jesus só se tornou divino a partir do Concílio de Nicéia", em 325 d.C., convocado pelo imperador romano Constantino (p.248-252):
Com
essa afirmação, Brown revela o seu profundo desconhecimento histórico.
Na verdade o Concílio de Nicéia apenas reafirmou a divindade
de Jesus Cristo, que já era aceita em textos e testemunhos pessoais
desde o século I. Vejamos:
O testemunho do próprio Jesus
Cristo: "Eu e o Pai somos um" (João 10.30).
O
testemunho dos evangelhos e epístolas: "No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus [...] E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória,
glória como do unigênito do Pai" (João 1.1 e 14). Dos israelitas
"são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o
qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!" (Romanos
9.5). "Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre;
e: Cetro de eqüidade é o cetro do seu reino" (Hebreus 1.8).
O
testemunho de vida e morte dos apóstolos: todos os apóstolos de Jesus
foram presos e/ou mortos sustentando a verdade de que Jesus Cristo era o
Messias e ressuscitou. Caro leitor, ninguém sustenta uma mentira sabendo
que aquela mentira vai condená-lo à morte. Os apóstolos morreram pelo
que acreditavam ser verdade.
O
testemunho do historiador judeu Flávio Josefo, que viveu algumas décadas
após a crucificação de Jesus: no Testimonium Flavianum (Ant.
18:63-64) Jesus é chamado de "um homem sábio". Essa afirmação é seguida
por uma breve explicação de que Jesus foi "aquele que realizou feitos
surpreendentes"; que era um professor e o Messias que foi condenado por
Pilatos para ser crucificado e ao terceiro dia aparentemente recuperou a
sua vida; e que "a tribo de cristãos, como seus seguidores são chamados,
até o presente momento não desapareceram" (18:63-64). Parece claro que
Josefo pelo menos conhecia algo sobre Jesus, Suas reivindicações e Seus
seguidores. Ele não era um seguidor de Jesus, mas apenas relatou o que
tinha ouvido.
O
testemunho dos pais da igreja: bem antes do Concílio de Nicéia, muitos
foram aqueles que morreram confessando que Jesus Cristo é Deus:
Policarpo de Esmirna era discípulo do apóstolo João, enviou carta à
igreja de Filipos entre 112 e 118 e foi martirizado em 160 d.C.[2]
Justino, o Mártir, nasceu em Israel, ficou impressionado com a
capacidade dos cristãos de enfrentarem a morte de forma heróica,
converteu-se ao cristianismo e testemunhou acerca de Jesus até o seu
martírio em 165 d.C.[3] Vários outros líderes da igreja de Cristo
consideraram Jesus divino muito antes do Concílio de Nicéia, a saber:
Inácio (105 d.C.), Clemente (150 d.C.), Irineu (180 d.C.), Tertuliano
(200 d.C.), Orígenes (235 d.C.), Novatian (235 d.C.), Cipriano (250
d.C.), entre outros.[4].
O testemunho dos cristãos que passavam pelo Panteão, em Roma: esse templo aos deuses foi concluído em 126 d.C. (cerca de dois séculos antes do Concílio de Nicéia). Cristãos eram levados para o Panteão e aqueles que não se curvavam diante da estátua de César e não confessavam César como "Senhor", eram mortos. Não foram poucos os cristãos que confessaram que só Jesus Cristo é o Senhor e preferiram morrer em vez de negar a Sua divindade. e) No Concílio de Nicéia, o resultado da votação a favor da divindade de Jesus Cristo foi "meio apertado" (página 250):
Que
conversa mole de Brown! O resultado foi uma lavagem a favor da divindade
total de Jesus! Dos 318 participantes, 16 se abstiveram de assinar o
"Credo de Nicéia". O resultado: 300 votos a favor da divindade total e
irrestrita de Cristo (posição já existente na igreja cristã) e 2 votos a
favor da divindade parcial e inferior de Cristo (posição defendida pelo
padre Ário).
f) "Os descendentes de Cristo geraram a dinastia que hoje é conhecida como merovíngia e fundaram Paris" (página 274):
Nossa! Que besteira! Paris não foi fundada pelos supostos descendentes
de Jesus Cristo, ela já existia séculos antes do nascimento de Jesus
Cristo! Em meados do século III a.C., a parisii, uma tribo gaulesa,
colonizou a ilha Seine Île de la Cite e fundou a colônia de Lutuhezi,
que depois também passou a ser chamada de Lutetia Parisorum. Os
merovíngeos apenas tornaram Paris a capital da França em 508 d.C.
g) A "Temple Church, em Londres, é redonda em honra ao sol" (pp. 359 e 364):
Ao
associar a forma redonda da Temple Church com o deus pagão do
sol, Brown comete um estrondoso erro arquitetônico. Cada igreja redonda
construída pelos templários na Europa é, na verdade, uma referência à
Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. A Temple Church
consagrada em 1185 não foge a essa regra. A redonda Igreja do Santo
Sepulcro contém um túmulo que os católicos acreditam ter sido o local
onde Jesus foi sepultado. Ela era considerada o lugar mais santo na
época das cruzadas.[5]
h) "Durante 300 anos de caça às bruxas, a igreja queimou na fogueira a quantidade impressionante de cinco milhões de mulheres" (página 135):
Que
hipérbole! Brown está se baseando em pesquisas desatualizadas e
desacreditadas. Na verdade, na melhor estimativa, foram mortos 30 a 50
mil homens e mulheres, acusados de feitiçaria durante quatro séculos
(1400 a 1800). Calcula-se que 25% dessas execuções eram de homens. Sem
dúvida, um número muito significante, mas nada em comparação com 6
milhões de judeus mortos durante o Holocausto, nem com os 50 milhões
eliminados pelo regime de Mao Tse Tung e muito menos com os 60 milhões
dos expurgos de Josef Stalin.
Bem, quem acreditar nas colocações históricas de Dan Brown como
verdadeiras, corre um sério risco de ficar burro.
Alguns outros erros históricos
foram cometidos no livro, mas não irei salientá-los. Acredito que os que
foram relatados já são suficientes para afirmar que os fatos históricos
não estão do lado de Dan Brown e que esse romancista não passa de um
sofrível professor de história.
Dan Brown: artisticamente desautorizado
Leonardo da Vinci (1452-1519) viveu durante a Renascença, mas foi um
homem à frente de sua época. Foi pintor, inventor, visionário,
matemático, filósofo e engenheiro. Dan Brown acrescenta a essa lista que
Leonardo era também "homossexual" (pp.54 e 130). As biografias de
Leonardo salientam que, em abril de 1476, ele foi anonimamente acusado
de sodomia com o assistente de pintura Saltarelli (conhecido
homossexual) e que em 7 de julho do mesmo ano o caso foi arquivado por
falta de provas.[6, 7] Portanto, não se pode afirmar que era ou não
homossexual. Do que temos certeza mesmo são os erros grosseiros
cometidos por Brown quando analisou algumas pinturas de Leonardo
tentando nos fazer crer que há um código oculto nelas.
a) A Madona
das Rochas (também conhecida como "A Virgem dos Rochedos"):
Quando a
personagem Sophie Neveu retira esse quadro dos cabos de sustentação e o
põe em sua frente, o autor narra: "Com um metro e cinqüenta, a tela
quase escondia o corpo da moça" (p.143). Bem, basta entrar no site
oficial do Museu do Louvre para identificarmos logo de cara que o quadro
mede 199 x 122 cm e não "um metro e cinqüenta".[8]
Na
seqüência, Dan descreve que foram "as freiras" da Confraria da Imaculada
Conceição que encomendaram a pintura para Leonardo (p.148). Na verdade,
a encomenda foi feita pelos padres da Confraria, já que não existia
"freira" nessa instituição.
Em
seguida, Brown relata: "A tela mostrava a Virgem Maria de túnica azul,
sentada com o braço em torno de um bebê, presumivelmente o Menino Jesus.
Diante dela se encontrava sentado Uriel, também com um menininho,
presumivelmente o pequeno João Batista. O estranho, porém, era que, em
vez da cena que costumeiramente se vê, de Jesus abençoando João Batista,
era João que estava abençoando Jesus... E Jesus mostrava-se submisso à
sua autoridade!" (p.148). O autor inverteu a identidade de João Batista
e de Jesus Cristo. Na verdade, Maria está com o braço em torno do bebê
João Batista. Já o bebê Jesus Cristo está à esquerda de Maria,
abençoando João Batista.[9]
Logo
após, o autor começa a ver o invisível, e diz: "O mais preocupante,
porém, era que Maria estava com uma das mãos sobre a cabeça do pequeno
João e em um gesto decididamente ameaçador – os dedos pareciam garras de
águia agarrando uma cabeça invisível. Por fim, a imagem mais
amedrontadora e clara: logo abaixo dos dedos curvos de Maria, Uriel
fazia com a mão o gesto de quem corta uma cabeça – como se cortasse o
pescoço da cabeça invisível que a mão de Maria, em forma de garra,
segurava" (pp. 148-149).
Se
você estudar o que os historiadores das artes descrevem sobre esse
quadro, vai descobrir que não existe nada do que é narrado por Dan
Brown. Essa conversa da "cabeça invisível" de João Batista é mera
esquizofrenia artística do autor do romance. O que sabemos de fato é que
a mão esquerda de Maria sobre a cabeça de Jesus (e não de João)
simboliza proteção. O anjo Uriel seria o "anjo da guarda de João
Batista" e aponta em direção a ele.
O autor acertou quando disse que há duas versões de "A Virgem dos
Rochedos" (até que enfim acertou uma), mas errou logo em seguida quando
tentou explicar o motivo dos dois quadros: "Da Vinci acabou convencendo
a confraria a ficar com uma segunda pintura, versão "açucarada" da
Madona das Rochas, em que todos se encontravam em posições mais
ortodoxas" (p.149). Na verdade, a primeira versão produzida durante os
anos de 1483-1486 encontra-se hoje no Museu do Louvre, já a segunda,
feita cerca de 20 anos mais tarde (1503-1506) encontra-se na National
Gallery, em Londres. Mas, por que duas versões? "Ocorreu uma
complicada e amarga discordância em relação ao pagamento: o artista
ameaçou vender a obra a um amante de arte que lhe oferecera obviamente
muito mais que aquilo que a Irmandade estava preparada para pagar. Esta
disputa foi provavelmente a razão de uma segunda versão da Virgem dos
Rochedos – a versão que é possível observar presentemente em Londres
e que na verdade decorou a capela dos monges em S. Francesco Grande em
Milão no século XVI". A versão mais antiga foi provavelmente adquirida
com rapidez pelo amante de arte, possivelmente Ludovico Sforza".[10]
Posteriormente, Sforza ofereceu o quadro ao Rei da França ou ao
Imperador Maximiliano.
b) A Mona Lisa:
Dan Brown não
deixou incólume a mais famosa e mais visitada pintura do mundo.
Conhecida na França como La Joconde, na Itália, como La
Gioconda, e em todos os demais lugares como Mona Lisa, é o quadro
número 779 do Louvre.
Quando o professor Robert Langdon, personagem criado por Dan Brown, é
questionado se "é verdade que a Mona Lisa é o retrato do próprio Da
Vinci, só que travestido?", responde: "É bem possível [...] Mona Lisa
não é homem, nem mulher. Traz uma mensagem sutil de androginia. É uma
fusão de ambos" (p.130).
Na
seqüência, Langdon ensina que as palavras "Mona Lisa" são uma junção do
deus egípcio Amon com a deusa egípcia Ísis, "cujo pictograma antigo era
L’ISA [...] Amon L’isa" (p.131). E conclui suas considerações com a
afirmação: "E esse, meus amigos, é o segredo de Da Vinci, o
motivo do sorriso zombeteiro da Mona Lisa" (p.131).
Bem,
vamos por etapas, pois é muito devaneio para uma pessoa só.
Primeiro, quem é a modelo na pintura? Algumas hipóteses foram
levantadas, mas com certeza, não é Leonardo da Vinci travestido. A
alegação mais consistente é de que seja Lisa Gherardim.
"O
registro do Battistero di San Giovanni confirma que ela nasceu em
Florença, numa terça-feira, em 15 de junho de 1479. [...] Aos 16 anos,
Lisa casou-se com um homem dezenove anos mais velho e duas vezes viúvo:
Francesco di Bartolomeo di Zanobi Del Giocondo, um dignitário
florentino. [...] Na época em que Leonardo começou a pintá-la, ela já
tinha tido três filhos, e um deles, uma menina, havia morrido em 1499.
[...] E até onde se pode verificar, Lisa não fez nada de excepcional
durante sua vida inteira, exceto sentar-se imóvel enquanto Leonardo a
desenhava".[11]
Segundo, de onde vem o nome Mona Lisa? Com certeza não é a contração de
nomes de divindades egípcias. "A pintura foi intitulada ‘Monna’ Lisa,
sendo Monna uma contração da Madonna (mia donna, minha senhora).
A grafia "Mona" é incorreta, de origem incerta, mas é a que ficou
estabelecida na Inglaterra".[12]
Terceiro, por que o sorriso comedido da Mona Lisa? Não tem nada de
"sorriso zombeteiro". Qualquer estudioso ou curioso sobre os quadros de
Leonardo vai perceber que aquele sorriso discreto da Mona Lisa não é
exclusivo dela. Leonardo pintou outros quadros onde os modelos exibem
sorrisos semelhantes, a saber: "São João Batista" (1513-1516); "João
Batista com atributos de Baco" (1513-1516); "A Virgem com o menino de
Santa Ana" (1510); "Dama com Arminho" (1483-1490). De acordo com Donald
Sasson, pesquisador e escritor sobre a Mona Lisa, esse tipo de sorriso
discreto fazia parte da etiqueta dos quadros do Renascimento: "Risos –
em oposição a sorrisos – são raros nos quadros do Renascimento, e nunca
são usados quando a aristocracia e as classes mais altas são
representadas. Mona Lisa não ri; ela mostra comedimento e decoro. Um
sorriso pode ser considerado como um riso atenuado, como a palavra
francesa, sou-rire – "sub-riso" – e a raiz etimológica do latim,
subridere, sugerem. No mundo altamente codificado da vida da
corte italiana do século XV, sorrisos não são deixados por conta da
iniciativa pessoal. Havia numerosos livros à disposição daqueles que
desejassem ser introduzidos no código apropriado de comportamento.[13]
Já
Giorgio Vasari, biógrafo de artistas e comentarista sobre a Mona Lisa,
citou em 1550: "músicos, palhaços e outros artistas ficaram entretendo a
modelo, enquanto Leonardo a pintava".[14] Vasari alega ser esse o motivo
do discreto sorriso.
O
fato é que o sorriso chamava pouca atenção e ninguém o considerava
misterioso, mas a partir do século XIX várias teorias conspiratórias
surgiram e o marketing do sorriso da Mona Lisa cresceu.
c) A Última
Ceia:
Essa
pintura mural de 460 X 880 cm, com técnica de óleo e têmpera sobre
gesso, na parede do refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie,
em Milão, é uma das obras-primas de Leonardo da Vinci. Hoje bastante
deteriorada, está em processo de restauração.
E lá vai Dan Brown outra vez:
na página 252, o autor chama "A Última Ceia" de "afresco" quatro vezes.
Brown desconhece que o artista, quando optou por pintá-la, renunciara à
técnica conhecida por "afresco" e escolheu a técnica de óleo e têmpera
sobre gesso.[15]
Na seqüência, o "culto" Sir Leigh Teabing
insinua que na pintura deveria haver, mas não há, um cálice de vinho
sobre a mesa. Ele conclui que a ausência do cálice demonstra que o Santo
Graal não é o cálice: "O Santo Graal não é um objeto. Na verdade...
trata-se de uma pessoa" (p.253).
Tudo
bem, vamos explicar porque não existe o cálice na "A Última Ceia", já
que os personagens do livro de Dan Brown desconhecem a história dessa
pintura. Os três primeiros evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas), relatam
que Jesus após cear, tomou um cálice e tendo dado graças, o deu a Seus
discípulos. Já o texto de João 13.21-24, apenas revela Jesus indicando
que entre eles há um traidor e não mostra Cristo ceando ou bebendo com
os discípulos. Foi baseado nesse texto joanino que Leonardo da Vinci
pintou esse quadro e, por esse motivo, não aparece o cálice. A ênfase
tanto do texto bíblico quanto da pintura não é no pão e no vinho, mas,
sim, na surpresa dos apóstolos ao tomarem conhecimento de que entre eles
havia um traidor.
Na
seqüência, Teabing fala à deslumbrada Sophie que a pessoa à direita de
Jesus é uma mulher – "Maria Madalena!" (p.260). E mais: que Pedro, com
sua mão esquerda próxima ao pescoço de Maria Madalena, é um sinal de
ameaça caso ela passe a ser a líder da igreja (p.265).
Puxa!
Dan Brown sofre de alucinações. Primeiro: todos os esboços dessa pintura
mural revelam que nela não existe mulher alguma e que a pessoa ao lado
direito de Jesus Cristo é João, o amado. Se não for João, onde este
estaria na pintura? Segundo: era típico do Renascimento retratar as
pessoas supostamente "mais puras e mais santas" com um aspecto
efeminado, motivo porque Leonardo o retratou assim (apesar de sabermos
que João, o amado, não tinha nada de tão santo assim). Terceiro: se João
parece uma mulher, o que dizer de Filipe (o terceiro à esquerda de
Jesus)? Quarto: o texto de João 13.24 diz que Simão Pedro fez um sinal a
João, "dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere". Essa falácia
de Pedro ameaçando uma suposta Maria Madalena não tem nenhum fundamento.
As
considerações de Brown sobre as pinturas de Leonardo são um desprezo
solene ao conhecimento dos fatos.
Bem, meu conselho é que se
algum dia Dan Brown quiser ser seu professor de artes, dê um pinote e
saia correndo para não se tornar inculto.
Brown
comete ainda outros erros artísticos, mas os relatados já são
suficientes.
O
hilariante é que nos agradecimentos do livro, Brown revela a profissão
da sua esposa: "E minha esposa, Blythe – historiadora de arte, pintora,
editora de primeira linha e, sem dúvida, a mulher mais incrivelmente
talentosa que jamais conheci". Mesmo?? Pare de me fazer cócegas, Dan
Brown!
Dan Brown:
teologicamente desautorizado
a) "O tetragrama judaico YHWH – o nome sagrado de Deus – na verdade derivava de Jeová, uma união física andrógina entre o masculino, Jah, e o nome feminino pré-hebraico de Eva, Havah" (pp. 328-329):
Está tudo troncho! YHWH não deriva de Jeová. Pelo contrário, Jeová é que
é uma adaptação da palavra YHWH. O tetragrama hebraico YHWH, sem
qualquer vogal, era impronunciável. A sua provável vocalização era "YAHWEH".
Foram os escritores cristãos, no século 16, que "introduziram Jeová sob
a noção errônea de que as vogais que usavam eram as corretas. Jeová é um
substantivo artificial criado a menos de 500 anos, e certamente não é um
substantivo antigo e andrógino do qual YHWH deriva".[16]
b) "O Santo dos Santos do Templo de Salomão abrigava não só Deus como também sua poderosa consorte feminina, Shekinah". Homens vinham ao Templo fazer amor com as sacerdotisas e assim experimentavam o divino (p. 328):
O que
o autor está afirmando é que Deus tinha relação sexual com sua consorte
feminina (Shekinah) dentro do Santo dos Santos. Mais: que os
judeus faziam sexo ritualístico com sacerdotisas no mesmo templo. Isso é
terrivelmente estranho! E não tem o respaldo de nenhum texto hebraico
sério!
Bem,
no Santo dos Santos só entrava o Sumo Sacerdote, uma vez ao ano, para
derramar sangue de animal no propiciatório como remissão dos pecados do
povo de Israel. Qualquer pessoa que ousasse entrar no Santo dos Santos,
além do Sumo Sacerdote, era prontamente eliminada por Deus. Deus se
manifestava como uma nuvem que cobria o tabernáculo (Êxodo 40.34-38;
Números 9.15-23; 1 Reis 8.10-11). Apesar da palavra Shekinah não
aparecer na Bíblia Sagrada, é a palavra hebraica para designar "a
manifestação da presença de Deus" sobre a arca da aliança. Os israelitas
chamam a nuvem sobre o Santo dos Santos de "Shekinah" (a
manifestação da presença de Deus). Shekinah não é um dos nomes de
Deus e muito menos de sua "consorte feminina". A propósito, essa
história de divindade com sua consorte feminina é doutrina hindu e não
acha guarida na teologia judaico-cristã.
Na
verdade, Dan Brown tentou transformar o local mais santo do Velho
Testamento (o Santo dos Santos) em um quarto de motel.
c) "Maria Madalena é o Santo Graal [...] a esposa de Jesus [...] e não era prostituta (pp. 260-267):
Na
verdade, há séculos, quando se fala sobre Maria Madalena, três hipóteses
são logo levantadas:
A primeira: Maria da cidade de
Magdala (Madalena), foi exorcizada por Cristo (Lucas 8.2) e passou a
seguí-lO desde então. Não existe evidência para afirmar que era uma
ex-prostituta. Eu acredito que ela não era.
A
segunda: Maria da cidade de Magdala (Madalena), foi exorcizada por
Cristo (Lucas 8.2) e era uma ex-prostituta. Esse ponto de vista só é
possível quando se faz a fusão (costumo chamar de confusão) entre Lucas
7.36-50 (fala de uma prostituta, seu nome não é mencionado, que ungiu os
pés de Jesus), Lucas 8.2 (fala sobre a ex-endemoninhada Maria Madalena)
e João 12.1-8 (fala sobre Maria, provavelmente a irmã de Marta, que
ungiu os pés de Jesus). Acredita-se que as mulheres mencionadas em Lucas
7 e em João 12 são Maria Madalena. A associação da mulher de Lucas 7 com
Maria Madalena foi feita pelo papa Gregório I em um sermão em 591 d.C.
Essa hipótese errônea é defendida pela igreja católica e por alguns
pastores evangélicos.
A
terceira: Maria da cidade de Magdala (Madalena), era amante de Jesus,
teve uma filha dele e tornou-se a líder da igreja. Essa hipótese é
baseada em alguns textos gnósticos, a saber: Evangelho de Filipe,
Evangelho de Tomé e Evangelho de Maria. É essa calúnia que
nos é ensinada no "O Código Da Vinci".
No
romance, orientada pelo erudito Sir Teabing, Sophie leu um trecho do
Evangelho de Filipe: "E a companheira do Salvador é Maria Madalena.
Cristo amava-a mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la
com freqüência na boca" (p.263).
Acerca dessa passagem que
descreve o beijo de Jesus em Maria Madalena (Evangelho de Filipe
63:32-64:10), o pesquisador e professor cristão Darrell L. Bock relata:
Este texto foi composto na segunda metade
do século III, cerca de 200 anos após a época de Jesus. Descreve Maria
como ‘companheira’ de Jesus. Dentre todas as passagens que podem sugerir
que Jesus tenha sido casado, esta é a mais importante.
Porém, o ponto central do
texto está fragmentado em 63:33-36 e diz: ‘E a companheira de [...]
Maria Madalena. [... amou] a ela mais que a [todos] os discípulos e
[costumava] beijá-la [sempre] na [...]’. Os colchetes indicam lacunas no
texto, pontos em que a leitura não é possível devido a estragos no
manuscrito. Aqui temos um mistério para desvendar![17]
Elaine Pagels, pesquisadora não-cristã dos evangelhos gnósticos, também
confirma as lacunas no texto: "a que acompanhava o [Salvador é] Maria
Madalena. [Mas Cristo a amava] mais que [todos] os discípulos, e
costumava beijá-la [freqüentemente] nos [lábios]. Os outros [discípulos
se ofenderam com isso...]".[18] Releia agora esse texto do Evangelho
de Filipe sem as palavras em colchetes e veja quão especulativo ele
realmente é. Por essas e outras é que os evangelhos gnósticos são
descredenciados.
Os
textos gnósticos têm autoria espúria (por exemplo, ninguém sabe quem é o
autor do Evangelho de Filipe).[19] Suas datas são tardias
(nenhum texto gnóstico se situa antes de 150 d.C. e, conseqüentemente,
não foram escritos por testemunhas oculares).[20] Mais: seus conteúdos
são fraudulentos, sem senso cronológico, sem qualquer pesquisa
geográfica ou contexto histórico e cheios de discrepâncias com os textos
do Novo Testamento que são confirmados historicamente.[21] Os evangelhos
gnósticos são desconexos e indicam aversão aos fatos. Uma constelação de
disparates.
Querido leitor, permita-me ser mais
sincero: Dan Brown como aspirante a teólogo é um calhorda e seu romance
parece mais um daqueles tablóides londrinos, mexeriqueiro, anticristão e
tosco. Entre esse suposto teólogo e sua obra, não sei qual é o pior.
d) Sobre a
adoração à "Mãe Terra" (pp. 135-136):
No
que diz respeito à adoração à "Mãe Terra" versus ecologia cristã,
sugiro a leitura do artigo "Ecologia
Esotérica".
Conclusão: quase tudo que nos ensinaram sobre Jesus é mentira?
Ao
término do romance, constatei que Dan Brown nos entregou um cruel
chiqueiro com o rótulo de uma pesquisa séria e erudita. Então, por que
teria de me preocupar com um romance sem valor histórico, artístico e
teológico? A resposta é simples: "O Código Da Vinci" nos ensina
uma linhagem gnóstica-esotérica. Até arriscaria dizer que esse romance e
o filme popularizarão a aceitação do gnosticismo com a mesma intensidade
que o livro e o filme "As Brumas de Avalon" fizeram a favor do
paganismo.
A
esmagadora maioria dos seus leitores aceitou suas mentiras cadavéricas
como sendo verdades preciosas. Poucos são aqueles que o questionaram. A
maioria pratica uma leitura anestesiada. Por esse motivo, quando minha
esposa me presenteou "O Código Da Vinci" no dia do meu aniversário,
colocou em um trecho do oferecimento: "Que o conteúdo nele tratado possa
ser desautorizado pelas verdades bíblicas". Saber desautorizar esse
livro é dever do cristão para que cada vez menos pessoas sejam enganadas
por essa fraude!
O
romance de Brown é desprovido da verdade, mas muito ousado, ao ponto de
colocar a seguinte afirmação na boca do seu respeitável historiador Sir
Teabing: "Quase tudo o que nossos pais nos ensinaram sobre Jesus Cristo
é mentira" (p.252). Baseado em que prova sólida ele faz tal
afirmação? Quais são as credenciais desse autor para que possamos
aferi-las?
Vejam
bem, Brown escreveu um livro acerca de Jesus Cristo, citou várias fontes
e interpretou-as do jeito que lhe aprouve. No entanto, em nenhum momento
mencionou qualquer trecho dos evangelhos neo-testamentários que são a
principal fonte fidedigna sobre a vida do nosso Senhor e Salvador.
O Dr.
Tony Carnes, jornalista evangélico e professor da Columbia University,
nos adverte: "Brown leva o leitor por caminhos traiçoeiros com um estilo
de ‘ficção dominadora’. Ele tenta atropelar as faculdades mentais do
leitor com falsificações grosseiras proferidas por autoridades fictícias
de prestigiosas universidades como Harvard e Oxford. Cita fontes
incorretamente ou refere-se a outras de que ninguém jamais ouviu falar,
apresenta fatos não comprováveis e insulta com apelações como ‘todas as
pessoas inteligentes sabem sobre isso"’.[22]
Invente outra, Dan Brown! Pois essa sua farsa não deu certo! Assim como
não é possível ganhar a final olímpica dos 100 metros rasos com um
medíocre condicionamento físico, de igual modo, não é racional aprender
sobre a boa história, as refinadas artes e a teologia equilibrada com um
romance pífio!
Aos
cristãos que lerem o livro ou assistirem ao filme e ficarem em dúvida
sobre a divindade de Jesus Cristo: "Admira-me que estejais passando
tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro
evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e
querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um
anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos
pregado, seja anátema" (Gálatas 1.6-8).
Que seja assim. Amém! (Dr.
Samuel Fernades Magalhães Costa)
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