AGOSTINHO

 

O protestantismo e o catolicismo romano tributam honra a contribuição de Agostinho a causa do cristianismo. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da história que continua válida até hoje em sua essência. Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros. Agostinho permaneceu diante de dois mundos, o clássico e o novo medieval.

Precisamos conhecer um pouco sobre esse homem, sua família, sua vida, seus anseios e suas interrogações, suas obras, e defesas contra os ensinos daquela época. Um homem que viveu alguns anos a procura da verdade e para encontra-la teve de renunciar sua carreira de professor de retórica, e toda as suas ambições e gozo dos prazeres sensuais.

Que dizia em sua constante oração: Dá-me castidade e continência. Mas não logo. E depois de receber respostas para as suas interrogações dizia: Amei-te tarde, ó beleza, tão antiga e tão nova, amei-te tarde demais. Ah! Estavas dentro de mim, o caso, porém, é que eu estava fora...  

A obra de Agostinho desencoraja a análise pela sua amplitude e pela sua diversidade. Somente Orígenes é capaz de apresentar uma produção mais considerável. Agostinho é sucessivamente filósofo, teólogo, exegeta, polemista, orador, educador e  catequista. Não se trata o que seria cansativo, nem mesmo de enumerar o título de suas obras. Mas a obra, pelo menos, permite avaliar seu gênio, e descobrir a diversidade de seus dons.

Pois, estamos diante de uma  literatura abundante e complicada cujo o alcance total é impossível, numa obra de caráter introdutório. Sua vasta obra envolve muitas facetas, ambivalência e ambigüidades.

Os seus primeiros escritos tem marca mais literária e filosofico-religioso. Mais tarde, como sacerdote e bispo, suas obras vão sendo marcadas pela preocupação teológico-pastoral, ligadas as controvérsias mantidas com os heréticos e cismáticos. Devido a impossibilidade de apresentar minuciosamente essa produção, vou classificar cada uma delas, ou seja:

Obras contra os Maniqueus, contra os Donatistas, contra os Pelagianos.

Além dessas obras(escritos) somam-se outros inspirados pelas preocupações e problemas da pastoral, da exegese, cartas e sermões. Sobre a Moral, A Trindade, As Retratações, As Confissões e a Cidade de Deus.  

Biografia?????????

Os Maniqueus

O maniqueísmo espalhou-se principalmente pela Pérsia(hoje Irã) e por toda costa do mediterrâneo.

Esta seita foi fundada por MANI no séculoIII. Na opinião de Mani a difícil situação humana era causada pelos dois princípios que há em cada um de nós. Um deles é espiritual e luminoso. 

 O outro, a matéria é físico e tenebroso. Mani dizia que essa doutrina tinha sido revelada em diversas épocas a vários profetas, entre os quais estavam Buda, Zoroastro, Jesus, e por último, ele próprio.

 Mani foi perseguido pelo rei e magos do seu país, a Pérsia, teve de refugiar-se na Mesopotâmia. Voltou a pátria, onde foi esfolado e atirado as feras.

O maniqueísmo misturava as doutrinas de Zoroastro com o Cristianismo.

Eis os pontos principais dessa doutrina: existe dois princípios, o bem, e o mal. O bem, que se chama Deus, e o mal, que se chama satanás.

Deus, para libertar a luz do cativeiro da matéria criou, por intermédio dos espíritos antagonistas dos demônios, o sol e a lua, os astros e a terra. E para salvar os homens enviou Cristo. O Espírito Santo menor que o filho, age beneficamente, ao contrário dos demônios, Cristo tomou corpo aparente, e por isso a sua morte não foi verdadeira. Maniqueu dizia-se enviado por Deus para completar a obra de Cristo. A seita maniqueísta, para imitar o colégio apostólico, tinha a frente um chefe( Fausto de Mileve ), 12 ministros,72 bispos, e por fim, diáconos e presbíteros. Celebravam missa sem vinho, festejavam o Domingo, sexta-feira santa e o dia de aniversário de Mani.

Tudo isso parecia ser uma resposta para as dúvidas de Agostinho, que estavam centralizada em dois pontos: O primeiro era que as Escrituras Cristãs, era uma serie de escritos pouco elegantes. O segundo era a questão da origem do mal. Sua mãe lhe tinha ensinado que só havia um Deus. Mas Agostinho perguntava de onde vinha todo o mal. No dois pontos o maniqueísmo parecia Ter uma resposta, as Escrituras não eram as palavras do princípio da luz, e o mal também não era produto deste princípio, mas o princípio das trevas.

Da polêmica dos maniqueus surgiram numerosas obras, numa delas, Sobre a moral e os costumes dos maniqueísmo, Agostinho mostra quanto esta moral e estes costumes são absurdos e incoerentes.

Durante 9 anos(374-383), Agostinho acompanhou como ouvinte essa seita, no afã de encontrar a verdade.

Os maniqueus lhe haviam prometido a ciência, mas lhe deram fábulas absurdas. Em lugar de argumentos racionais o obrigaram a crer. E por ocasião de um debate público com o bispo maniqueu, Fausto de mileve, percebeu as contradições do maniqueísmo dualista e começou ase afastar dessa seita. Depois disso Agostinho se tornou neoplatônico. É difícil descrever toda essa Filosofia, mas seu objetivo central era conhecer um Inefável. Em oposição ao maniqueísmo o neoplatonismo cria que existia só um princípio do qual provinha todas as coisas. O neoplatonismo ajudou Agostinho a conceber Deus e a alma em termos menos materialistas, ao contrário dos maniqueus. 

Os maniqueus perguntavam de onde vinha o mal, e Agostinho respondia com a pergunta: o que é o mal?

Contra os Donatistas

Da polêmica contra os Donatistas, na qual Agostinho se envolveu, especialmente, no período de 393-430 nasceram obras importantes, além de muitos sermões. Foi nesse período que ocorreu uma grande conferência pública que se tornou célebre. Realizada em cartago, em 411, ela se desenvolveu na presença de nada menos do que 286 bispos católicos e de 279 bispos donatistas. Nela Agostinho aparece como autoridade incontestável. Esta conferência marcou o início da total ruína do donatismo.

O cisma donatista deriva das perseguições de Dioclesiano(303-305), durante as quais, alguns bispos e sacerdotes confessaram Ter entregue as Escrituras as autoridades civis para escapar do castigo ou do martírio. Em 312 se restabeleceu a paz e os rigoristas não admitiram o novo bispo Ceciliano por causa de seu passado. Desde 313, os rigoristas foram encabeçados por Donato, o grande, como bispo cismático de cartago, durante mais de 40 anos. Pela metade do século IV, o panorama se complicou com a irrupção dos circunciliões(guerrilheiros armados e de fanática obediência donatista).

O núcleo de sua doutrina consistia na exigência de maior rigor em matéria de disciplina eclesiástica, na convicção de que a igreja devia ser uma assembléia de homens puros, excluindo dela os imorais, e na crença de que a validez dos sacramentos dependia da pureza moral de seus ministros. Os donatistas formavam, portanto, uma seita cristã separada da grande igreja. Eles desejavam ser uma igreja de santos extremamente rigorosa, por menor que fosse, e não uma igreja do povo. Todos que pecassem, após o batismo, deveriam ser excluídos dela.

Diante dos donatistas, Agostinho apresentava sua teoria das duas cidades ou dois tipos de homens que estão sempre misturados enquanto durar o mundo. Em suas obras antidonatistas, Agostinho apresenta uma pormenorizada argumentação teológica da noção da igreja e dos sacramentos. A igreja é comunidade visível de santos e de pecadores, a eficácia dos sacramentos não depende das disposições morais do ministro.

Contra os donatistas Agostinho desenvolveu também a teoria da guerra justa.

Controvérsia Pelagiana

O Pelagianismo ocupa os 20 últimos anos da atividade de Agostinho. Pelágio, um monge ascético vindo da bretanha para Roma, reage contra o relaxamento dos costumes, ensinando uma moral exigente e dura. Enfatiza o esforço, a liberdade, a ponto de minimizar o papel da graça e exagerar o poder da bela natureza humana.

Nessa controvérsia, Agostinho deve o título de Doutor da Graça, iniciada por volta de 412. Pois encontrou-o mais preparado e com melhor visão do problema.

 A experiência pessoal de pecador e convertido, além das questões que lhe foram propostas por outros, haviam-lhe feito compreender a centralidade e a dramaticidade do problema da graça. O confronto com pelágio e com outros pelagianos não fez senão precisar sua posição, acirrando a polêmica contra todo moralismo religioso.

 Entre as obras principais desse período, quero citar: sobre a Natureza e sobre a Graça; sobre a Graça e o Pecado original; Da alma e sua origem;  contra as 2 epístolas de pelágio; e os 6 livros contra Juliano.

Um exame dos grandes temas tratados nestas obras mostra que a teologia do pecado original e da graça é o aspecto mais desenvolvido e mais conhecido entre todos.

Os principais erros de pelágio, conforme seus acusadores são:

1 Adão foi criado mortal e teria morrido mesmo que não tivesse pecado;

2 O pecado de Adão prejudicou somente a ele e não a todo gênero humano;

3 As crianças recém-nascidas encontra-se na mesma condição em que se encontrava Adão, antes do pecado;

4 A queda de Adão não acarretou a morte de todo gênero humano, assim como a ressurreição de Cristo não trouxe a ressurreição a todos;

5 O homem pode viver sem pecado e observar com facilidade os mandamentos de Deus;

6 A lei mosaica conduz ao paraíso tanto quanto o evangelho;

 7 Também antes de Cristo houve homens sem pecado;

Agostinho não só se defende de pelágio, mas, também de Juliano de Eclano discípulo de Pelágio. Juliano afirmava que não existe pecado original, pois Deus não pode fazer nada contra a razão.

Contra isso Agostinho lembrou sua experiência do tempo em que simultaneamente queria se tornar cristão e não queria. Para ele a vontade humana não é tão simples assim. Há casos em que desejamos algo, e ao mesmo tempo não desejamos.

Para Agostinho o pecado é uma realidade tão poderosa que se apossa da nossa vontade, e enquanto estamos em pecado não nos é possível querer se livrar dele. Só há uma luta entre o querer e o não querer. O pecador somente pode querer o pecado. Isso não quer dizer que a liberdade tenha desaparecido, o pecador continua livre para escolher diversas alternativas, mas, alternativa que não pode escolher por si próprio é a de deixar de pecar. 

 O filósofo dinamarquês Sorem, no seu livro, O desespero humano, viu bem está tragédia do pecado, ele disse: O homem está no centro da luta de duas forças antagônicas. Dois pesos o vergam.

Agostinho diz que antes da queda tínhamos liberdade para pecar e para não pecar. Mas depois da queda e antes da redenção a única liberdade que nos resta é a de pecar. Contra tudo isso pelágio afirmava que estamos livres para pecar e para não pecar, e não existe o que é chamado de pecado original, nem uma corrupção da natureza humana que nos obriga a cair, se caímos é por conta própria. As crianças não tem pecado, até que elas mesmas, individualmente, decidam pecar.

O debate estava em torno se as crianças deveriam ser batizadas ou não. Naquela época era costume batizar as crianças cujos os pais solicitassem. Os pelagianos diziam que as crianças não deviam ser batizadas, pois não tinham pecado. Agostinho responde que o pecado original é hereditário. Ele apela para o texto de Rm 5:12 “ Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo”. A controvérsia durou vários anos, e os pelagianos foram condenados. Para a maioria as crianças tinham pecado, e precisavam ser batizadas.

Agostinho ainda argumenta que o pecado original não é voluntário, mas procede da vontade do primeiro homem. Foi introduzido pela má vontade de Adão. Está em nós por causa da unidade do gênero humano. Em virtude desta unidade que todos incorremos no pecado de Adão. Condenado Adão, todos fomos condenados. Essa condição histórica, explica no homem sua tendência ao mal. 

Sobre a Moral

A trindade

As Retratações

As Confissões

As confissões, escrito único em seu gênero, composto entre 397-400, foi concebido a partir de sua experiência passada. Interpretado através do exame do primeiro versículo do gênesis. Composta em 13 livros, a obra revela a evolução interior e a luta em busca da verdade e do repouso em Deus.

Talvez a obra mais conhecida de sua lavra sejam as confissões, uma das maiores obras autobiográficas de todos os tempos. No curso dessa obra Agostinho abre a sua alma.

O livro traz no primeiro parágrafo a citadíssima frase: Tu nos fizeste para ti e nosso coração não descansará enquanto não repousar em ti.

Os livros I a VII descrevem a sua vida anterior a conversão; o livro VIII descreve os eventos em torno da sua conversão. 

 Os dois livros seguintes narram a morte de sua mãe e sua volta ao norte da África; os livros XI e XIII são comentários aos primeiros capítulos de Gênesis em que usa a alegoria com freqüência.

A Cidade de Deus

Sua grande obra apologética e, segundo alguns sua maioria, sobre a qual reside sua fama, é o tratado de civitate Dei, popularmente conhecida como A Cidade de Deus. Agostinho achava ser esta a sua grande obra. Espantados com o saque de Roma por Alarico em 410, os romanos creditaram este desastre ao fato de terem abandonado a velha religião clássica romana e adotado o cristianismo. Agostinho põe-se a responder essa acusação a pedido de seu amigo Marcelino.

Os livros I a X constituem a parte apologética dessa obra. Ele procura demonstrar nos livros I a V que a prosperidade do Estado independe do velho culto politeístico porque os romanos sofreram catástrofes antes do advento do cristianismo.

 Nos livros seguintes, Agostinho demonstra que o culto aos deuses não ajudam seus devotos, ao passo que o cristianismo pode dar e tem dado bênçãos aos que abraçam.

A origem das duas cidades é discutida nos livros XI a XIV. A idéia central da obra está no cap.28 do livro XV. A primeira cidade, a cidade de Deus, é formada de todos os seres humanos e celestiais unidos no amor a Deus e interessados somente em sua glória. A cidade da terra é composta de seres que, amando apenas a si mesmos, procuram sua própria glória e seu próprio bem.

 Agostinho não tinha em mente o império romano ou a igreja quando falou destas duas cidades.

A despeito desses valores permanentes, Agostinho contribuiu para a formulação da doutrina do purgatório, sua interpretação do milênio, como o período entre a  encarnação e a Segunda vinda de Cristo em que a igreja venceria o mundo, gerou o ensino romano sobre a igreja de Roma como a igreja universal destinada a agrupar todos dentro do seu aprisco. Entre Paulo e Lutero, a igreja não teve ninguém da estatura moral e espiritual de Agostinho.   

 Esse estudo provém de um trabalho realizado por Cícero Tiago de Holanda Bezerra, estudante de Teologia do ( ITEBASE ) Instituto Teológico Batista Sergipano, em exigência da disciplina  História do Cristianismo I.